terça-feira, janeiro 24, 2006

Tarde de cetim - Flora Figueiredo

Na penumbra da sala fechada,
pingam palavras de camurça
sobre os seios brancos da donzela recatada.
Dedos fervilhantes afagam almofadas
à espreita de mamilos principiantes.
No piano de cauda, pálpebra baixada,
dormita o teclado.
Chopin na partitura queda-se calado.
O ar é quente e a sala escura.
Do par de candelabros escorrem
luzes de cera frouxamente amarelas.
O anjo rotundo baixa a sentinela.
Rompe-se a textura do silêncio
com um súbito ruído:
sobre a calma do tapete, um cristal partido.
Tomba uma rosa cor-de-vinho
junto ao coração de esmalte azul-marinho.

Nenhum comentário: