quarta-feira, abril 26, 2006

No mundo das fadas - Carlos Figueiredo

No mundo das fadas
cada nome é usado uma única vez

em histórias contadas pelo vento
A luz é uma música
o mar é curvo
os olhos são espelhos
e a noite é um grito
e é dos seus gemidos
que surge a areia das praias.

No mundo das fadas
o Tempo é um luar
no bosque da memória
onde correm almas de rios
em cachoeiras-miragens
até um lago
feito da pele que vai saindo do arfar
de um coração-estrela.

No mundo das fadas
um Dia é Amor
dedos são crianças
e há uma torre
onde não há nada.

No mundo das fadas
raízes são pássaros
rostos são relâmpagos.

E se respiram lâminas
delgadas, rítmicas, fatais,
que se morre a cada instante

e a cada volta
é preciso substituir o coro.

domingo, abril 23, 2006

Teresa - Manuel Bandeira

A primeira vez que vi Teresa
Achei que ela tinha pernas estúpidas
Achei também que a cara parecia uma perna

Quando vi Teresa de novo
Achei que os olhos eram muito mais velhos que o resto do corpo
(Os olhos nasceram e ficaram dez anos esperando que o resto do
                                                                       [corpo nascesse)

Da terceira vez não vi mais nada
Os céus se misturaram com a terra
E o espírito de Deus voltou a se mover sobre a face das águas.



Meu irmão achou meu "Libertinagem e Estrela da Manhã", que bom!!! Estava há meses procurando esse livro!

sexta-feira, abril 21, 2006

Meu Povo, Meu Poema - Ferreira Gullar

Meu povo e meu poema crescem juntos
como cresce no fruto
a árvore nova

No povo meu poema vai nascendo
como no canavial
nasce verde o açúcar

No povo meu poema está maduro
como o sol
na garganta do futuro

Meu povo em meu poema
se reflete
como a espiga se funde em terra fértil

Ao povo seu poema aqui devolvo
menos como quem canta
do que planta

terça-feira, abril 18, 2006

Canto para as Transformações do Homem - Moacyr Félix

- Meu pai, o que é liberdade?
- É o seu rosto, meu filho,
o seu jeito de indagar
o mundo a pedir guarida
no brilho do seu olhar.
A liberdade, meu filho,
é o prórpio rosto da vida
que a vida quis desvendar.
É sua irmã numa escada
iniciada há milênios
em direção ao amor,
seu corpo feito de nuvens
carne, sal, desejo, cálcio
e fundamentos de dor.
A liberdade, me filho,
é o próprio rosto do amor.

- Meu pai, o que é a liberdade?

A mão limpa, o copo d'água
na mesa qual num altar
aberto ao homem que passa
com o vento verde do mar.
É o ato simples de mar
o amigo, o vinho, o silêncio
da mulher olhando a tarde
- laranja cortada ao meio,
tremor de barco que parte,
esto de crina sem freio.

- Meu pai, o que é a liberdade?

É um homem morto na cruz
por ele próprio plantada,
é a luz que sua morte expande
pontuda como uma espada.
É Cuauhtemoc a criar
sobre o braseiro que o mata
uma rosa de ouro e prata
para a altivez mexicana.
São quatro cavalos brancos
quatro bússolas de sangue
na praça de Vila Rica
e amis Felipe dos Santos
de pé a cuspir nos mantos
do medo que a morte indica.
É a blusa aberta do povo
bandeira branca atirada
jardim de estrelas de sangue
do céu de maio tombadas
dentro da noite goyesca.
É a guilhotina madura
cortando o espanto e o terror
sem cortar a luz e o canto
de uma lágrima de amor.
É a branca barba de Karl
a se misturar com a neve
de Londres fria e sem lã,
seu coração sobre as fábricas
qual gigantesca maçã.
É Van Gogh e sua tortura
de viver num quarto em Arles
com o sol preso em sua pintura.
É o longo verso de Whitman
fornalha descomunal
cozendo o barro da Terra
para o tempo industrial.
É Frederico em Granada.
É o homem morto na cruz
por ele próprio plantada
e a luz que sua morte expande
pontuda como uma espada.

- Meu pai, o que é a liberdade?

A liberdade, meu filho
é coisa louca que assusta:
visão terrível (que luta!)
da vida contra o destino
traçado de ponta a ponta
como já contada conta
pelo som dos altosa sinos.
É o homem amigo da morte
por querer demais a vida
- a nunca podrida.
É o sonho findo em desgraça
desta alma que, combalida,
deixou suas penas de graça
na grade em que foi ferida...
A liberdade, meu filho,
é a realidade do fogo
do meu rosto quando eu ardo
na imensa noite a biuscar
a luz que pede guarida
na trevas do meu olhar.

A pedra mais alta - Fernando Anitelli

Me resolvi por subir na pedra mais alta
Pra te enxergar sorrindo da pedra mais alta
Contemplar teu ar, teu movimento, teu canto
Olhos feito pérola, cabelo feito manto

Sereia bonita sentada na pedra mais alta
To pensando em me jogar de cima da pedra mais alta
Vou mergulhar, talvez bater cabeça no fundo
Vou dar braçadas remar todos mares do mundo

O medo fica maior de cima da pedra mais alta
Sou tão pequenininho de cima da pedra mais alta
Me pareço conchinha ou será que conchinha acha que sou eu?
Tudo fica confuso de cima da pedra mais alta

Quero deitar na tua escama
Teu colo confessionário
De cima da pedra não se fala em horário
Bem sei da tua dificuldade na terra
Farei o possível pra morar contigo na pedra

Sereia bonita descansa teus braços em mim
Não quero tua poesia teu tesouro escondido
Deixa a onda levar todo esboço de idéia de fim
Defina comigo o traçado do nosso sentido

Quero teu sonho visível da pedra mais alta
Quero gotas pequenas molhando a pedra mais alta
Quero a música rara o som doce choroso da flauta
Quero você inteira e minha metade de volta

Mi Retrato - Lil Figueroa Acuña

Miro mis ojos y veo los tuyos,
llevan el brillo de tu inspiración
Miro en mis ojos el azul del cielo,
y un barquito navega en mi cariño

Miro mis ojos y veo los tuyos,
vuelo de colores sobre mi piel
Miro mis ojos y veo los tuyos,
Un arco iris pintado sobre tu cara, tu pelo y mi alma.

Miro mis ojos y veo los tuyos,
vuelo de colores sobre mi piel
Miro mis ojos, veo los tuyos,
en mi retrato, tu corazón

Y se ilumina el pincel, con cansancio fiel,
obrero de mil ojos de miel

http://www.laconversa.com.ar

essa é a letra de uma música do Grupo Argentino "La Conversa". Tive muita sorte em conhecer esse grupo, estava andando nas ruas de Buenos Aires quando fui enfeitiçada pelo som de uma música, segui o som e encontrei na rua esses 6 músicos, tocando e cantando "Mi Retrato" e logo me apaixonei!