sexta-feira, janeiro 06, 2006

O Urubuzeiro - Manoel de Barros

Meu amigo Sebastião estourou a infância dele e mais duas pernas
No mergulho contra uma pedra na Cacimba da Saúde.
Quarenta anos mais tarde Sebastião remava uma canoa no rio Paraguaio
E deu o barranco de uma charqueada.
Sebastião subiu o barranco se arrastando como um caranguejo trôpego
Até a casa do patrão e pediu um trabalho.
O patrão olhou para aquele pedaço de pessoa e disse:
Você me serve para urubuzeiro.
(Urubuzeiro era uma tarefa de espantar urubus que atentavam nos tendais
de carne.)
trabalho de Sebastião era espantas os urubus.
Sebastião espantava espantava espantava.
Os urubus voltavam de bandos.
Sebastião espantava espantava.
Um dia pegaram Sebastião a prosear em estrangeiro com os urubus.
Chegou que Sebastião permitiu que os urubur fizessem farra nas carnes.
Os urubus faziam farra nas carnes e conversavam em estrangeiro com
Sebastião.
Veio o patrão e mandou Sebastião para o manicômio.
No manicômio ninguém compreendia a língua de Sebastião
De forma que Sebastião despencou do seu normal
E foi encontrado na rua falando sozinho em estrangeiro.

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