terça-feira, março 09, 2010

exercício literário

Tosse. Ruídos. Eu em silêncio. O piano toca. Passo a ouvir a música ao redor. Tenho uma tarefa: traduzi-la. Como traduzir ao mesmo tempo em que a ouço? Acabo perdendo, filtrando. Meu ouvido seleciona flashes, e enquanto escrevo, perco. Perco um foco; acho o outro.

Não estou mais traduzindo.

De repente, percebo-me imersa em meus pensamentos e esqueço das sensações que rodeiam.

Das sensações.

Tenho cinco sentidos, e percebo de repente que apenas a audição está “parcialmente ligada”. A visão serve-me apenas para guiar a caneta no papel. E o tato? Mal sinto-o. Só sei que seguro a caneta, deslizando a mão sobre o papel.

Paro um pouco para escutar o redor. Ao redor. Há uma música ao fundo e não sei muito bem o que imagino. Sim. Acabei de ser remetida à cenas de Kieslowski em “A dupla vida de Veronique”.

Vejo agora uma mulher. É noite e ela está numa estação de trem. Sua silhueta é visível, desenhada por uma fumaça amarelada que a envolve. Está de costas e tem um chapéu na cabeça. Numa das mãos um casaco; na outra, uma pequena valise. Ela olha. Espera. E embora tudo ao seu redor esteja tenso, ela parece impermeável a isso.

Por que essa mulher parece, de alguma maneira, estar fora da cena? Não, ela não está fora da cena. Porém, parece não pertencer. É como se flutuasse e estivesse congelada. E como se tudo acontecesse à sua volta, e ela apenas observasse.

Ela contempla. Espera. Está indo em alguma direção, mas ainda não sabe ao certo. Eu não sou essa mulher, mas vejo-a. Ela está à minha frente e é como se não soubesse da minha existência. Não vejo mais ninguém, apenas ela. E apesar disso, sei que está num lugar onde diversas coisas acontecem ao seu redor.

Pessoas passam.
Vão de um lado para o outro.
Seguem seus rumos e caminhos.

Mas eu não os vejo. Apenas vejo-a.

A mulher da estação. A mulher da estação...

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Ontem comecei um curso de criação literária. Isso que acabo de postar é meu primeiro exercício. Acho que postarei outros. Assumo que é estranho postar algo que eu sinto que ainda não está pronto, mas acho válido arriscar!

3 comentários:

Fê Lopes disse...

Fiquei com vontade de saber mais sobre a moça de chapeu amarelo.
E arrisque sim, sempre.
bjs
MTO, MTO boas suas fotos, hein?!!

Fê Lopes disse...

e eu que já dei cor ao chapéu da moça?! fala sério!

Julia Moreira disse...

obrigada pelo comentário da foto! :)

hum, quem sabe eu ainda não escrevo um conto sobre uma moça de chapéu amarelo? Gostei da imagem!