terça-feira, janeiro 12, 2010

sobre o intraduzível ou Gypsy Cove novamente

Leia antes: Gypsy Cove

Ainda não estou muito satisfeita em relação ao que escrevi sobre tradução, na semana passada. Sim, é fato que há sempre algo que se perde e que é intraduzível. Talvez por pensar isso, tenha deixado de tentar traduzir em palavras a imagem captada por meus olhos (que é completamente diferente daquela registrada pela câmera fotográfica). Há algo mais do que apenas registro da visão; e não é só porque é uma imagem que passa pelos outros sentidos (o barulho do vento, o cheiro úmido do ar, o vento cortante no rosto); tampouco por ser uma imagem em movimento, difícil de ser congelada. Ou precisamente por isso.

Talvez o intraduzível, nesse caso, esteja no movimento. Na transformação. Ou nos sentimentos.

Às vezes me pergunto o que me fascinou tanto naquele lugar. Quem sabe, o limite da aproximação e a necessidade de permanecer distante. Pois essa é uma área com bombas, que há anos foram escondidas, por isso é isolada. Apenas penguins podem pisar por lá, sem correr o risco de desencadear uma explosão.

Aos homens, é permitida uma visão distanciada.

A percepção tátil é a do vento que bate, e não a dos pés na areia ou do corpo na água. Abre-se, com essa distância, um outro espaço. De algo que não está pronto. Um espaço único e pessoal. Será que é aí que entram os sentimentos? Estaria nesse espaço o intraduzível?

Um comentário:

M. disse...

A linha tênue que divide o real do surreal...
Nem sempre o surrealismo encontra-se no seu sentido literal.