sexta-feira, maio 12, 2006

Cata-Vento - Federico García Lorca

Vento do Sul,
moreno, ardente,
que passas sobre minha carne,
trazendo-me semente
de brilhantes
olhares, empapado
de flores de laranjeira.

Tornas vermelha a lua
e soluçantes
os álamos cativos, mas vens
demasiado tarde!
Já enrolei a noite do meu conto
na estante!

Sem nenhum vento,
acredita em mim!,
gira, coração;
gira, coração.

Ar do Norte,
urso branco do vento!
Que passas sobre minha carne
tremente de auroras
boreais,
com tua capa de espectros
capitães,
e rindo estrepitosamente
do Dante.
Oh! polidor de estrelas!
Mas vens
demasiado tarde.
Meu armário está musgoso
e perdi a chave.

Sem nenhum vento,
acredita em mim!,
gira, coração;
gria, coração.

Brisas, gnomos e ventos
de nenhuma parte.
Mosquitos de rosa
de pétalas pirâmides.
Alísios destetados
entre as rudes árvores,
flautas na tormenta,
deixai-me!
Tem fortes cadeias
minha recordação,
e está cativa a ave
que desenha com trinos
a tarde.

As coisas que vão não voltam nunca,
todo mundo sabe disso,
e entre o claro gentio dos ventos
é inútil queixar-se.
Não é verdade, choupo, mestre da brisa?
É inútil queixar-se!

Sem nenhum vento,
acredita em mim!
gira, coração;
gira, coração.

Um comentário:

Anônimo disse...

Nice colors. Keep up the good work. thnx!
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